O que mudou na Causa Kentenich?

10 de fevereiro de 2021 às 10:31 AM

 

Em 10 de fevereiro de 1975 foi aberto, na Diocese de Treves, a Causa de Beatificação do Fundador de Schoenstatt

 

Ir. M. Márcia Silva – Neste mês, recordamos os 46 anos da abertura do Processo de Beatificação do Pe. José Kentenich, com certeza um tempo de muita pesquisa e estudo. O postulador da Causa, Pe. Eduardo Aguirre, conta como estão os trabalhos e envolvimento da Família de Schoenstatt nesta fase do Processo.

 

Como é estar à frente deste processo, como postulador, justamente neste tempo em que surgem publicações e acusações em relação à conduta do Pe. Kentenich?

 

Pe. Eduardo: Desde o início de julho de 2020, quando as acusações e difamações feitas pela Sra. von Teuffenbach se tornaram conhecidas, podemos dizer que o Processo de Beatificação do nosso Pai e Fundador sofreu uma aceleração surpreendente. De fato, essas acusações têm motivado uma renovada preocupação pela pessoa do nosso Pai em amplos círculos da nossa Família: as correntes de oração pelo processo do Pe. Kentenich têm se intensificado, a sua pessoa tornou-se mais presente na consciência da nossa Família de Schoenstatt e despertou-se um grande interesse em estudar e conhecer melhor a história das Visitações e o tempo do exílio.

 

Nesse sentido, muita investigação tem sido feita – e continua a ser feita – sobre documentos pesquisados em diferentes arquivos e muitos artigos e estudos estão a ser publicados como resultado dessa investigação. Está havendo um trabalho intenso que será muito positivo para dar um forte impulso ao Processo do nosso Pai.

 

Também será muito importante o trabalho que a nova comissão de investigação histórica, formada pelo Bispo de Tréveris (o último responsável pelo desenvolvimento da causa do Pai na sua fase diocesana) começou a fazer em relação à esta etapa da história de Schoenstatt. Podemos confiar que esta comissão será capaz de esclarecer definitivamente as questões, dúvidas e motivos que levaram ao nosso Pai e Fundador ao exílio. Esperamos também que, com isso, a fase diocesana do Processo possa ser fechada e chegar a Roma, onde deve ser resolvido definitivamente.

 

Claro que, a par dessas consequências mais positivas de toda as controvérsias levantadas, também houve dor, confusão, dúvidas e discussões sobre a figura do nosso Pai na Família de Schoenstatt. Neste sentido, estes últimos meses não têm sido fáceis.

 

Para mim, tem sido um tempo exigente e desafiador, o que tem intensificado o meu trabalho. Tive de estudar e rever um grande número de documentos. Em condições e tempos normais, todo esse trabalho seria levado com muito mais tempo e calma.

 

Posso também dizer que as acusações feitas pela senhora von Teuffenbach preocuparam-me e também indignaram-me, devido ao quão malfeitas e pouco sérias são; como ela manipulou e selecionou algumas fontes, retirando-as do contexto, e ignorando outras, para construir as suas acusações de abuso sexual e comportamento tirânico da parte do Pai. Ela afirmou claramente que gostaria de impedir que a sua Causa avançasse.

 

Mas posso dizer que em nenhum momento duvidei da integridade moral do nosso Pai e Fundador, nem da santidade que ele alcançou, precisamente por causa das provações a que foi submetido pelo Santo Ofício. O que tenho estudado durante este tempo intenso, reforçou a minha admiração pelo Pe. Kentenich e a minha convicção de que ele é uma figura santa e profética para o nosso tempo e o futuro da Igreja.

 

Por conseguinte, posso finalmente dizer que estou grato e otimista pelo desenvolvimento em relação ao processo do Pe. Kentenich.

 

 

 

Como está o trabalho com os documentos que o senhor teve acesso nos arquivos do Vaticano?

 

Pe. Eduardo: Até agora, pude estudar cerca de 400 documentos, cobrindo mais de 2000 páginas. Trata-se de cerca de metade dos documentos que se referem ao Pe. Kentenich nos arquivos da Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Santo Ofício). Portanto, ainda tenho um número semelhante de documentos para pesquisar. Devido ao covid, o acesso aos arquivos tem sido limitado e não o posso ir até eles continuamente. Mas espero receber em breve uma cópia de todos os arquivos relacionados com o Pe. Kentenich e Schoenstatt, que pude encomendar há algumas semanas. Assim poderei estudá-los mais calmamente em casa.

 

Em relação aos conteúdos, as razões da Visitação e os confrontos com o Santo Ofício, encontrei poucas novidades. Muitos documentos desse arquivo já eram conhecidos durante o Processo de Beatificação do Pe. Kentenich e estão presentes no arquivo da Causa. Isto inclui decretos, cartas, relatórios, declarações, etc., que já tinham sido estudados e considerados pela Comissão Histórica que, na altura, foi formada pelo Bispo de Trier, no âmbito do processo diocesano, e que já tinha emitido o seu relatório final. Toda essa documentação relacionada com o processo está sob sigilo; ou seja, não pode ser divulgada.

 

Naturalmente, também encontrei documentos que não eram conhecidos e que não se encontram nos arquivos do Processo. Entre eles, penso que os mais importantes, e que ainda não foram considerados na Causa, são os relatórios sobre a Visitação Apostólica (1951-1953), escritos pelo Visitador, Pe. Sebastian Tromp. São quatro relatórios que foram apresentados internamente ao Santo Ofício e que compreendem cerca de 200 páginas escritas em latim. Esses relatórios foram mantidos desde então, até agora, sob sigilo. Uma vez traduzidos, poderemos estudá-los em pormenor. Mas, em termos de conteúdo, em geral não fornecem elementos importantes desconhecidos ou surpreendentes.

 

Em todo o caso, posso afirmar que nos arquivos do Santo Ofício não encontrei qualquer acusação de abuso sexual, atos de violência ou conduta imoral por parte do Pe. Kentenich. Nem antes, nem depois houve acusação alguma deste tipo contra ele. Se tivesse havido alguma, podemos estar certos de que o Santo Ofício, o Supremo Tribunal da Igreja naquela altura, não encobriu ou fez “vista grossa” a este tipo de má conduta. Se o tivesse feito, o Santo Oficio teria de ser acusado de encobrimento. Mas o Santo Ofício não geriu nenhum julgamento com uma tal acusação contra o Pe. Kentenich. Nem mesmo os seus mais ferrenhos detratores trouxeram acusações de abuso sexual contra ele.

 

O próprio Kentenich, na medida em que tomou conhecimento de algumas difamações e rumores a este respeito, negou-as categoricamente. (Cfr. “Apologia pro vita mea”, 1960)

 

Nos arquivos encontrei também um bom número de escritos que chegaram ao Santo Ofício e mesmo ao Santo Padre, Pio XII, em defesa da idoneidade do Pe. Kentenich, dos seus ensinamentos e práticas, assim como esclarecimentos em relação à espiritualidade e pedagogia de Schoenstatt, e do significado da pessoa do Fundador para a Família de Schoenstatt. Não há cópias de vários deles na documentação da Causa.

 

 

 

Como postulador, qual sua principal tarefa neste momento?

 

Pe. Eduardo: Como podem ver, tenho estado concentrado no estudo e classificação de um grande número de documentos que têm a ver com este período da história do nosso Pai. Também tenho estado em contato permanente com um grupo de Irmãs de Maria que está trabalhando intensivamente no estudo dos seus próprios arquivos e dos documentos que partilhamos de outros arquivos. O mesmo em relação às iniciativas tomadas pela Presidência Geral, que tem formado comissões de estudo e de comunicação, e em coordenação com o trabalho de outros Padres de Schoenstatt, que têm feito investigação e estão elaborando temas, bem como outros membros da nossa Família.
Alguns frutos desta pesquisa e trabalho podem ser vistos no site oficial de Schoenstatt: www.schoenstatt.com

 

Após as publicações, houve alguma mudança na participação e interesse da Família de Schoenstatt pela Causa de Beatificação do Fundador? O que o senhor vê nesse sentido?

 

Pe. Eduardo: Como já mencionei, toda essa situação colocou a pessoa do nosso Pai e Fundador muito mais no centro da consciência da Família. Também a corrente de oração pela sua causa intensificou-se. Penso que se pode dizer que, para as atuais gerações da Família de Schoenstatt, esta situação motiva, e mesmo exige, a um estudo mais aprofundado dessa etapa da história de Schoenstatt, a fim de conhecer e compreender mais profundamente a pessoa, a vida e o carisma do Fundador.

 

Tendo em conta os momentos mais difíceis e exigentes da história da nossa Família de Schoenstatt, por causa das perseguições do Pe. Kentenich pelos nazistas e depois pelo Santo Ofício, agora em vários círculos da Família são oferecidas orações e ofertas ao Capital de Graças pelo “3º regresso, ou libertação do Pai” ou pelo “3º milagre da Noite Santa”.

 

Da mesma forma, toda essa polêmica nos ajuda a olhar de forma mais realista para o Pe. Kentenich e, embora as acusações de conduta imoral sejam falsas, sabemos que como todos os seres humanos ele tinha limites, que não era infalível e que podia cometer erros. Podemos dizer que nem sempre obteve os resultados que esperava e que poderia ter errado no julgamento e compreensão de algumas pessoas que colaboraram com ele na fundação de Schoenstatt. Como é evidente, o Pe. Kentenich não nasceu santo. Se ele se tornou um santo, foi ao longo de uma história de vida bastante agitada, na qual sempre lutou para deixar-se conduzir pela Divina Providência, colocando-se nas mãos de Maria e aspirando seriamente ao ideal de santidade. Se atingiu ou não este ideal, é a Igreja que deve declarar isto formalmente, após uma investigação minuciosa da sua vida e obra no marco do Processo que será levado a cabo.

 

 

 

Como as orações e grupos formados pela Beatificação do Pe. Kentenich ajudam em sua tarefa? É possível fazer algo mais?

 

Pe. Eduardo: Tenho certeza de que é muito importante intensificar e aumentar as ofertas de orações e entregas ao Capital de Graças, para implorar as graças de que necessitamos, para que a nossa Mãe e Rainha saia vitoriosa e os planos de Deus sejam realizados em relação à Causa do nosso Pai e Fundador.

 

Ao mesmo tempo, esses grupos de oração, que têm se multiplicado em diversos países e que têm crescido muito numericamente, são muito importantes para difundir a fama de santidade do nosso Pai e promover o seu Processo. Motivados por essa corrente de oração, têm surgido workshops virtuais para o conhecer melhor e se envolver mais com o Pe. Kentenich. De maneira semelhante estão sendo realizados cursos online com base na biografia do Pai, para aprender mais sobre seu carisma e missão.

 

Como discípulos fiéis do nosso Pai e Fundador e animados pela nossa Aliança de Amor, confiamos plenamente na Providência de Deus, que nos conduz sabiamente, e na fidelidade da nossa Mãe, que mais uma vez mostrará o seu poder de Rainha nestas controvérsias em torno do Pe. Kentenich. MPHC et V!

 

Pe. Eduardo Aguirre,
Roma, 07/02/2021

 

 

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