Gertraud von Bullion e a questão da mulher hoje

 

Alicja Kostka – A Coluna Feminina de Schoenstatt realizou nas últimas semanas e meses o “Congresso da Mulher” em diversos lugares da Alemanha, ao todo, foram 30 eventos. Congressos realizados em razão do grande evento originalmente planejado para o ano de 2020, em Schoenstatt, Vallendar. Trata-se da recordação de que desde 1920 também mulheres descobriram a espiritualidade de Schoenstatt e do Santuário da Mãe Três Vezes Admirável como uma importante mensagem para elas e, assim, ajudaram quase desde o início no desenvolvimento do crescente caminho de Schoenstatt. Para as primeiras mulheres era importante compartilhar suas experiências com outras mulheres. Hoje, unidas na Aliança de Amor entre céu e terra, elas estão abismadas com tudo o que surgiu deste pequeno início, de sua fé e engajamento por décadas. Uma grande árvore com muitas comunidades países afora.

 

Também Gertraud von Bullion, que havia se inscrito como abridora de porta na história deste Movimento, vai se alegrar. Até hoje ela permanece um tanto oculta, como era de seu desejo, ser “uma pedra no fundo do alicerce que, desapercebida e sem ser vista, repousa escondida no fundo da terra e, todavia, ajuda a sustentar todo o edifício” (Lauer, 2009, p. 207). Como pioneira, ela teve coragem de se envolver ativamente, com responsabilidade, a fim de possibilitar a participação das mulheres na missão de Schoenstatt. Neste sentido, parece que foi mesmo necessário o engajamento de uma condessa para dar conta das inúmeras vozes contrárias e questionamentos por parte dos membros, exclusivamente masculinos, da época.

 

Após 100 anos, de novo a hora da mulher

Após 100 anos de seu passo decisivo na história chegou mais uma vez a hora da mulher. Agora a participação da mulher nas instâncias decisivas e em cargos de responsabilidade da Igreja é mais acentuada do que naquela época. O Papa Francisco dá sinais concretos neste sentido tomando a sério as vozes do tempo – e da mulher. O Pe. José Kentenich falou, já na década de 1930, que a mulher deve influenciar a história de forma decisiva, que ela não foi e não pode ser escrita somente por homens. Isto vale também para a história e o futuro da Igreja. Um “caso modelo” é Gertraud von Bullion com sua coragem e seu agir concreto. Ela estava convencida que a União Apostólica de Schoenstatt, como “comunidade de líderes”, também deveria abrir suas portas para mulheres. Ela se engajou neste sentido, não confrontando, mas cooperando, indo ao encontro das intuições do Fundador e assim promoveu um salto decisivo.

 

Com a grandeza de um coração sacerdotal, dar vida à Igreja local

Também para Gertraud, o desejo do sacerdócio não foi algo estranho. Ao seu futuro biógrafo, Pe. Nikolaus Lauer, ela confessou que o “invejava” por sua vocação e “poder fazer homilia”. Quantas pessoas podemos conquistar para Cristo por meio deste serviço! Gertraud von Bullion assumiu sua vocação como mulher na Igreja e ajudou a configurar esta Igreja a partir do seu interior. Mesmo não estando envolvida diretamente nas estruturas da Igreja, o que na época não entrava em questão, ela se engajou conscientemente para que a Igreja local fosse uma Igreja viva e concreta, uma proposta válida também hoje.

 

Neste contexto, podem ser citados o seu cuidado para se instalar uma capela no hospital militar para a celebração da Santa Missa e o encaminhamento para o sacerdote daqueles que procuravam a recepção do sacramento da Reconciliação e da Unção dos Enfermos. Ela estava consciente que a Eucaristia é o centro da vida da Igreja. Ela se engajou para este centro e o “vivificou” por meio de um profundo desejo neste sentido, através da adoração, da “ornamentação” do Santíssimo Sacramento e condução das pessoas a este Sacramento. Onde ela se encontrava surgia algo vivo, porque ela se sentiu impulsionada a amar Cristo a partir do interior.

 

A Igreja de hoje não precisa de um sentido para o que realmente é sagrado? Com Gertraud von Bullion e, depois dela, muitas mulheres trilharam este caminho, como personalidades autônomas para fazer com que a Igreja local ganhasse vida.

 

Mas também foi importante a participação em tomada de decisões, no mesmo nível, com os responsáveis do Movimento de Schoenstatt, entre eles, o sacerdote palotino Pe. Michael Kolb. Ao seu lado, Gertraud von Bullion se tornou a primeira responsável no Norte da Alemanha.

 

Ela participou ativamente das reflexões sobre os critérios para a admissão na União Apostólica. Empenhou-se para que também as mulheres pudessem encontrar um lar na Casa da União [hoje Casa da Aliança], na época, ainda em construção. Ela preparou retiros e outras iniciativas missionárias. Assim se envolvia decisivamente em muitas coisas, com seu jeito elegante e respeitoso.

 

 

 

 

Um caso modelo também para os dias atuais

Em Gertraud von Bullion, por assim dizer, Deus apresenta um “caso modelo”, uma mulher ativa, responsável, ciente de seu valor próprio. Ela não se tornou dependente de cargos e funções para sua autoestima e engajamento na Igreja. Dedicou-se generosamente às tarefas e pessoas que se encontravam diante dela. Uma discípula missionária, como o Papa Francisco identifica os cristãos de hoje e do futuro. A jovem condessa uniu, na vocação do engajamento apostólico, leigos e pessoas consagradas, com as quais ela estava vinculada no soberano “Caritas Christi urget nos” (a caridade de Cristo nos impulsiona). O seu engajamento caritativo e missionário é intenso e até hoje é difícil abrangê-la inteiramente em termos concretos. Trata-se de um espírito da “nobreza”, no melhor sentido da palavra, para o qual o Pe. Kentenich queria levar as pessoas por meio do acompanhamento espiritual.

 

Uma pedra escondida no alicerce

Na sua atitude de consumir-se, como o fundador de Schoenstatt, Pe. José Kentenich, definia a sua atuação, ela chegou ao ponto de não querer ser a “pedra fundamental” do novo edifício do Movimento Feminino, na época, da União Apostólica, porém ser uma “pedra escondida no alicerce”, invisível aos olhos humanos. E em sua aspiração aos mais elevados ideais, ela permaneceu modesta: “Se tenho de chegar a ser uma santa, concede que ninguém o perceba e muito menos eu” (Lauer, 2009, p. 173) – este foi seu desejo.

 

Após 100 anos, ela permanece sendo uma pérola escondida, uma pedra escondida, cuja ação em prol de todo o edifício do Movimento continua. É, ao mesmo tempo, um caso que impacta.

 

O seu processo de beatificação, iniciado há 30 anos, está parado nos últimos anos por decisão das autoridades competentes. Ela é ainda muito pouco conhecida? A sua mensagem ainda não foi acolhida? O próprio Pe. Kentenich expressou seu respeito diante de Gertraud von Bullion e, certamente, se alegraria se aqueles que se sintam motivados cuidassem para que Gertraud fosse mais reconhecida na Família de Schoenstatt.

 

 

 

 

LAUER, N. Gertraud von Bullion: Serviam, resposta de amor. Lisboa: Paulus, 2009.

Fonte: schoenstatt.org.br – tradução: Geni Maria Hoss

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