Partida de Dachau

 

“Caíram as algemas! Da terra sagrada de Schoenstatt se elevem todas as vozes, em jubiloso hino de gratidão” (Rumo ao Céu, 612).

Karen Bueno – 20 de maio é dia de gratidão e de festa para a Família Internacional de Schoenstatt, é a data na qual se recorda a chegada do Pe. José Kentenich a Schoenstatt, ao Santuário Original, depois de três anos e meio preso no campo de concentração de Dachau, na Alemanha. A Mãe e Rainha se mostra vitoriosa na batalha e fiel à Aliança de Amor.

 

Com a chegada dos soldados americanos do exército dos Estados Unidos à região, o campo de Dachau foi evacuado. Assim, no dia 6 de abril de 1945, por volta de 9 horas, o Pe. Kentenich pôde deixar a prisão em liberdade, sadio e com renovado ardor missionário. Depois de um longo trajeto, com os meios de locomoção disponíveis na época, ele chega a Schoenstatt e é recebido com alegria e gratidão pela Família de Schoenstatt. É o momento do reencontro com a Mãe, com o Santuário e com a Família. O ápice da vitória de Schoenstatt sobre o terror da guerra.

 

 

A biografia escrita pelo Pe. Engelbert Monnerjahn narra os passos do Fundador a partir dali:

 

“Sua primeira visita foi ao pároco da aldeia de Dachau, a quem queria agradecer de coração a todo o auxílio que os sacerdotes do campo receberam por seu intermédio. Passou a primeira noite em liberdade no Mosteiro de Schoenbrunn, situado nas proximidades. A seguir passou uma semana com a Família de Schoenstatt da cidade de Freising, que lhe pedira especialmente para chegar até lá. Em Freising teve uma audiência com o Cardeal Michael von Faulhaber, Arcebispo de Munique, com quem conversou sobre os problemas pastorais da Alemanha destruída no pós-guerra”.

 

Pe. Kentenich chegou a Schoenstatt num dia de festa:

 

“Esperou o fim da guerra nos montes da Suábia, na casa do pároco Kulmus. Aí o encontraram o Pe. Alex Menningen e seu irmão, que tinham ido buscá-lo e estavam à sua procura. Chegou a Schoenstatt na manhã do dia 20 de maio de 1945 e, depois de três anos e meio de prisão, celebrou novamente o santo sacrifício da missa no Santuário da Mãe de Deus. Era o domingo de Pentecostes, festa do Espírito Santo”.

 

A guerra não abalou seu espírito missionário, ao contrário, o impulsionou. O Pai e Fundador mal chegara de volta e imediatamente começou a trabalhar, depois de retornar da prisão. Sua primeira atividade foi levar a Família de Schoenstatt a um retrospecto, recordando os anos de provação passados. Assim foram suas palavras, exaltando a misericórdia de Deus Pai:

 

“Propriamente, nada mais deveríamos fazer que ficar em silêncio, um ao lado do outro, e meditar na bondade, no amor e na misericórdia de Deus, ou melhor, no próprio Deus bondoso, amoroso e misericordioso. Conforme as palavras de Santo Agostinho: ‘Videbimus et amabimus, amabimus et laudabimus… in fine, sine fine’ (Veremos e amaremos, amaremos e louvaremos… no fim e sem fim)”.

 

Em tempos de pandemia

Este dia jubilar, 75 anos de vitória sobre a morte, traz uma mensagem de esperança e confiança na Mãe de Deus. Indica que todo sofrimento passa, a vida se reconstrói e o mundo renasce dos escombros; e o que não passa, jamais, é a fidelidade da Mãe à Aliança de Amor.

 

Da mesma forma que o Fundador sabia que precisava passar pela provação de Dachau, também sabia que sairia de lá vitorioso por obra da Divina Providência e cuidado da Mãe e Rainha. Assim, antes de ser levado ao campo de concentração, ele escreveu o “Hino de Gratidão”, que hoje compõem as últimas estrofes do livro de orações Rumo ao Céu (612-625).

Esses versos foram transformados em melodia algum tempo depois, assim, no dia 20 de maio de 1945, com júbilo, a Família de Schoenstatt entoou este canto que novamente dizemos com gratidão:

 

 

Hino de Gratidão

 

Caíram as algemas!
Da terra sagrada de Schoenstatt
se elevem todas as vozes,
em jubiloso hino de gratidão.

 

Na dura peregrinação,
Deus manifestou à nossa comunidade
sua grandeza e sabedoria,
para seu louvor e sua glória.

 

A desgraça que o poder
e a astúcia de Satanás tramaram,
o olhar do Pai transformou
em nossa maior felicidade.

 

O que era terreno no pensar
e humano demais na doação,
Deus quis orientar para o alto
e submergir inteiramente em si.

 

Assim, hoje estamos estreitamente unidos,
fundidos no amor de Deus,
lutando incansavelmente
contra os descendentes de satanás,

 

para que surjam homens novos,
livres e fortes aqui na terra
que, nas alegrias e dificuldades,
procedam como Cristo

 

e somente a Ele vinculem
as aspirações de seu coração,
assim como a Mãe e Esposa
o fez outrora, em sua vida.

Com gratidão, nossas almas

escolham o Cordeiro de Deus,
para desposá-lo eternamente
e sermos contados entre os que lhe são fiéis.

 

Senhor, queres morrer de novo,
porque subitamente nos ameaça destruição;
com propostas de amor, procuras conquistar
herdeiros da transfiguração?

 

Eis aqui a tua grei
dos pequenos e dos puros;
une-os benignamente a ti
e manifesta-te de novo ao mundo.

 

Neles podes sofrer, lutar
e apascentar as almas,
por eles experimentar de novo
as alegrias da ressurreição.

 

Edifica por eles a cidade
dos prados celestiais,
para que todos, confiantes,
elevem a ela seu olhar.

 

Podes enviar
até os confins do mundo,
os que hoje por ti se empenham,
para completar teu Reino aqui na terra.

 

Maria, recebe esta oferenda
em tuas mãos fiéis de Mãe,
para que, até o fim da vida,
não cesse este hino de gratidão.


Amém.

Pe. Kentenich no retorno do campo de concentração

 

Referências: Pe. José Kentenich: Uma vida pela Igreja, Engelbert Monnerjahn. Instituto Secular dos Padres de Schoenstatt. Editora Pallotti, Santa Maria/RS, 1975.

 

Fonte: schoenstatt.org.br

 

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