“O que significa sociedade líquida? O sociólogo Zygmunt Bauman define a sociedade atual com este termo, devido a um ritmo incessante de transformações, o que origina angústias e incertezas. O que vigora em nossa sociedade é o individualismo e o consumismo, resultado de transformações sociais e econômicas, causadas pelo capitalismo globalizado.

 

Antes da metade do século XX, mais precisamente antes da revolução tecnológica, viveu-se a modernidade sólida, o que pode ser entendido como um período em que era possível planejar e criar metas a longo prazo. Hoje, é preciso ser rápido, planejar a curto prazo, o que torna tudo inseguro e passível de mudanças.

 

Um exemplo simples dessa teoria é que quando estamos numa relação estável, seja profissional, amorosa ou de amizade, em nossa cabeça vem a ideia de que estamos perdendo as novidades” (Cf. Janguiê Diniz). Parece que nada foi feito para durar.

 

Diante desta sociedade, qual é a resposta de Schoenstatt? Como schoenstattianos, como podemos ser e viver de modo a ser uma resposta a este desafio atual?

 

A resposta está na pedagogia das vinculações, meio comprovado na vida de tantos filhos de Schoenstatt que se deixaram educar pelo Fundador diretamente ou por meio dos seus escritos e de seus seguidores.

 

Quando falamos de vinculações nos referimos a algo muito profundo. O ser humano não nasceu para ser uma ilha, mas para se relacionar com o meio em que vive: pessoas, coisas, lugares. O significado etimológico de vínculo é atar-se com um laço estável e seguro.

 

Há vínculos nos quais ocorre uma relação profunda, carregada de afeto, livre e permanente, assumida no âmago da pessoa e que a toca profundamente.

 

O ser humano foi criado como um centro de relações, aberto para to­das as direções: pessoas, coisas e Deus. Tudo indica que o indivíduo se movimenta em um sistema formado por essas coordenadas, e somente através da harmonia com elas pode se desenvolver e se realizar.

 

Em nossos dias, os vínculos estão cada vez mais fracos. O Pe. Kentenich já percebeu e vivenciou isso em seu tempo, por isso reconheceu claramente que, para ajudarmos as pessoas e as famílias a serem sadias e felizes, é necessário trabalhar nelas o organismo natural e sobrenatural de vinculações. Antes disso, precisamos nós mesmos abrir-nos e harmonizar em nós os diversos vínculos, educando-os para um desenvolvimento sadio e orgânico.

 

“Temos que capacitar novamente o homem para suas múltiplas vinculações, torná-lo capaz e disposto para uma profunda vincu­lação interior a lugares, coisas e ideias. Sobretudo temos que torná-lo capaz de desenvolver os vínculos com a comunidade”. “Quem ignorar esta tarefa na educação e na pastoral construirá sobre a areia seus planos de renovação”. (Kentenich, José, Vinculaciones personales, op. cit., p. 19ss.).

 

Essa frase do Pe. Kentenich nos recorda outra frase proferida por Santa Teresa de Calcutá: “Você quer fazer algo pela paz mundial? Vá para casa e ame a sua família!”

 

Nossos anseios de transformar o mundo, de construir uma nova terra mariana, de “solidificar” essa sociedade “líquida” em que vivemos, só o conseguiremos estabelecendo e cultivando vínculos profundos, estáveis, maduros, sadios. Os pais, os esposos fazem o melhor pelos filhos quando gastam tempo em família, dialogando entre eles e com os filhos, escutando-os, olhando-os nos olhos, brincando com os filhos pequenos, interessando-se pelos interesses dos filhos adolescentes e jovens. Os jovens precisam, mais do que todos, de vínculos, especialmente de amizade. Os pais fazem muito, quando apoiam os filhos para que tragam seus amigos para casa, quando promovem momentos de interação: lanches, filmes, jogos, passeios, enfim, momentos em que a família e os amigos se encontram, conversam, trocam experiências, se divertem, mas também partilham seus sonhos, preocupações, sofrimentos.

 

Às vezes os jovens dão a impressão de que não querem saber disso, mas se os pais tomam a iniciativa, captam o centro de interesse dos jovens e investem nisso, sairão ganhando muito e conquistarão seus filhos nessa faixa etária, em que eles buscam referência e, muitas vezes, se sentem sozinhos. Trazer os amigos para casa, conhecê-los, interagir com eles, saber o que pensam e valorizá-los… Tudo isso é criar vínculos!

 

Nossa missão é ajudar as novas gerações a terem relacionamentos sólidos e duradouros, precisamos combater os relacionamentos “descartáveis”, aos quais os jovens estão tão expostos hoje e aderem facilmente, pois não requer compromisso.

 

Os vínculos naturais nos abrem e nos capacitam para os vínculos sobrenaturais: com Deus, com Nossa Senhora, com os santos. As amizades terrenas, o relacionamento entre pais e filhos, entre irmãos nos abrem o caminho para conhecer a Deus, para relacionar-nos com Ele. Quem é fechado para vínculos humanos, dificilmente conhecerá um profundo relacionamento com Deus, não aprenderá a rezar, a conversar com Deus. As pessoas são caminho para Deus, são escada para Ele, esse é o amor orgânico que o Pe. Kentenich tanto pregou, ensinou e viveu.

 

Quando encontramos alguém que nos ama e nos aceita profundamente como somos, quando também amamos alguém de modo bem natural, com os sentimentos do coração, esse se torna o melhor meio para subirmos a Deus, entendermos o seu amor por nós e nos entregarmos a ele.

 

O vínculo a lugares (o próprio lar, a Paróquia, o Santuário, a casa dos avós, etc.) e a ideias (valores, espiritualidade, ideais) são também meios eficazes para enraizar a pessoa num mundo estável, não obstante as instabilidades da vida, e torná-la forte e resistente. Uma constante troca de casas, de paróquia, de escola não favorece a estabilidade emocional das crianças, adolescentes e de qualquer pessoa. Criar vínculos profundos é o melhor meio educativo. Se quisermos ajudar para que alguém tenha um bom desenvolvimento de sua personalidade, favoreçamos para que essa pessoa estabeleça e cultive vínculos profundos de amizade, de amor, que aprenda a se deixar complementar por outra pessoa, sem criar dependência excessiva.

 

Já dizia o pequeno príncipe: “Num mundo que se faz deserto, temos sede de encontrar um amigo”. E o Eclesiástico: “Quem encontrou um amigo, encontrou um tesouro!” (Eclo 6, 14-17)

 

Por: Ir. M. Ana Paula Hyppólito
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