O coordenador da Ala Covid-19 e a Aliança de Amor

18 de janeiro de 2021 às 3:44 PM

 

Como a Aliança de Amor me ajudou a coordenar esta ala do hospital?

 

Gabriel Afonso Dutra Kreling – O ano de 2020 ficará marcado na história. A grande pandemia do novo coronavírus foi motivo de inúmeros desafios, uma vez que a situação teve potencial de desequilibrar o macrocosmo (Mundo exterior, meio comum) e o microcosmo (Mundo interior, individual).

 

Chamo-me Gabriel, selei minha Aliança de Amor no Santuário Esmagadora da Serpente, em Londrina/PR, meus pais são da União de Famílias. Eu e minha esposa, Carina, moramos em Cascavel, no Paraná, onde atuo como médico. Neste ano, tive o maior desafio profissional da minha vida: ser coordenador da Ala Covid-19 do maior hospital público do oeste do Paraná, o Hospital Universitário de Cascavel.

 

Medo, insegurança, desespero, saudade, angústia, incerteza, solidão foram alguns dos sentimentos que vivi. Medo de morrer, medo de adoecer, medo de levar a doença para as pessoas que amo, medo de não conseguir salvar todas as pessoas que dependeriam dos meus cuidados e dos cuidados da minha equipe. Chamavam-nos de super-heróis, mas nunca tive superpoderes para passar imune a todos esses sentimentos; eu era apenas alguém capacitado para cuidar de pessoas que havia sido chamado ao trabalho.

 

Para passar por isso, pude contar com o apoio incondicional da minha esposa e dos meus familiares, mas, sem dúvida, a Aliança de Amor teve papel fundamental em tudo. Vinha à minha mente a imagem da geração fundadora, que no início da juventude foi convocada para a Guerra, dando um sim confiante à Mãe, estando preparada ou não para o que viria. Tenho certeza de que eles também tiveram medos, mas a presença real de Maria os fazia seguir. Também não tinham superpoderes, mas hoje são considerados nossos “Heróis de Schoenstatt”. Essa presença real da Mãe foi um dos grandes motivos que me manteve diariamente.

 

Muitas vezes, não tinha a profundidade necessária para uma oração. Meus pensamentos se voltavam para os pacientes, para a minha equipe, para os problemas estruturais. Eu tentava, mas não conseguia, estava além da minha capacidade humana. A solução que eu encontrei foi parar na frente da imagem da Mãe da minha casa antes de sair e dizer: “desculpe-me, eu não consigo rezar. Cuida de tudo, cubra-me com o seu manto de proteção. ‘Jesus manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao Vosso’”. Essa era a minha oração diária, a única forma que tinha de focar meus pensamentos por um pequeno momento. Neste ponto, gostaria de agradecer ao Pe. Vitor Possetti, que foi um grande amigo na condução da minha vida espiritual.

 

Outra forma de me sentir protegido era pedir para que as pessoas rezassem por mim – meus pais e avós, meus sogros, minha esposa, meus irmãos. Nas ligações para os familiares, diariamente, não era infrequente ouvir: “estamos rezando por vocês.” Minha resposta sempre foi: “muito obrigado, estamos contado com isso, por favor continue”. Dessa forma podia, principalmente nos momentos mais frágeis, sentir a presença e o cuidado da Mãe e de Deus Misericordioso.

 

 

(Fotos: Hospital Universitário do Oeste do Paraná – HUOP)

 

Várias foram as situações, mas vou relatar uma em especial. Durante a quaresma, estava em um plantão noturno em uma UTI de um hospital da cidade, não havia mais leitos para COVID-19 naquele hospital e, caso fosse necessário, teríamos que tirar leitos “não-Covid” para os pacientes. Além disso, nesta mesma noite a UTI do HU também lotou e existia pressão política para a abertura de mais leitos, que não podiam ser abertos do “dia para a noite”, não tínhamos equipe, não tínhamos equipamentos. Neste momento, fui para o quarto de descanso e chorei, sentei na cama e não sabia o que fazer, o peso era grande, a responsabilidade enorme. Respirei fundo, apaguei a luz do quarto, coloquei o fone de ouvidos e escutei a música “Na Tua Misericórdia”, parei por quatro minutos e meio, esqueci de tudo. Abri os olhos e me veio a frase: “é vontade de Deus, por isso silencia” (Pe. José Kentenich), lavei meu rosto e voltei ao plantão. No outro dia, tinha motivo e sentido para seguir e tentar viabilizar o melhor que podia fazer. Repeti algumas vezes essa frase, respirando fundo para buscar forças para continuar.

 

Com esse grande desafio, pude sentir a Aliança de Amor de forma concreta, na minha pequenez espiritual pude viver o “Nada sem Vós, nada sem nós”. Eu entregando meu sofrimento, meu trabalho, minhas capacidades e minhas incapacidades, tentando diariamente fazer o “ordinário extraordinariamente bem”, com medo, às vezes como uma criança, olhando para a Mãe e tendo a certeza de que Ela estava fazendo a parte dEla. Além disso, meu Ideal Pessoal nunca esteve tão presente nos meus pensamentos, a vivência diária de algo próximo ao ideal pessoal me fez sentir a plenitude de ser que nunca havia percebido: buscar viver meu ideal pessoal em meio ao sofrimento, em meio aos desafios me fez encontrar sentido à minha existência, à minha vida.

 

O exemplo da trajetória do Movimento de Schoenstatt e de nossa Mãe, Rainha e Vencedora, que se fez presente no Santuário por meio do Capital de Graças, vínculos que foram fortalecidos em meio as duas grandes Guerras. Desta forma, pude entender esse período da minha vida como um chamado, como um pedido de Deus para mim. E a exemplo de Maria, não tinha outra opção senão dar o meu “sim”. Nos momentos de sofrimento, pude imaginar Maria aos pés da Cruz: presente, forte, Mãe e filha ao mesmo tempo, em silêncio, contemplando o Amor de Deus e a vontade de Deus para a vida de seu Filho muito amado.

 

Fiz este texto no tempo do pretérito (passado), mas a Pandemia continua. Vamos nos cuidar, vamos cuidar dos outros. A responsabilidade social é um imperativo do tempo, nos autoeduquemos para isso! Que a Mãe de Deus interceda por todas as famílias que perderam seus entes queridos, pelas almas dos que se foram e por todos que de alguma forma sofreram, sofrem ou sofrerão por consequência da pandemia.

 

 

Fonte: schoenstatt.org.br

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